No ano passado minha filha teve um episódio de tontura, falta de ar e começou a ter visão dupla. Como desde os 3 anos de idade ela faz acompanhamento com cardiologistas por causa de arritmias, levei ela para a emergência do hospital.
Cheguei no pronto atendimento achando que ela estava tendo um mal estar qualquer. A plantonista examinou e pediu a avaliação da parte neurológica e também da cardiologista que acompanha nossa filha. O neurologista examinou ela e desconfiou que ela pudesse estar tendo um AVC (sim, crianças também tem quadros de AVC) ou um ataque isquêmico transitório e deixou nossa filha internada para averiguar o que estava acontecendo.
Depois de 5 dias internada, recebemos a notícia que provavelmente ela teve um AIT e que a verdadeira causa para o mal estar dela era o coração.
Nossa filha estava tendo várias bradicardias (quando o coração bate abaixo do indicado para a pessoa). Os batimentos cardíacos dela ficavam em torno de 40/minuto. Isso era a causa para ela estar se sentindo tão cansada, com tontura e sem energia para fazer nada.
Foi indicado o implante de um marcapasso. Claro que no momento da notícia eu fiquei extremamente assustada! Você provavelmente não conhece muita gente que use um marcapasso e muito menos que essas pessoas sejam crianças. Então, foi um choque com misto de medo, desespero e buscas por respostas “Por que ela precisa disso tão novinha”? ou “Será que eu fiz algo errado no tratamento da minha filha”?
No caso da nossa filha, ela possui uma síndrome rara chamada heterotaxia que causa várias alterações nos órgãos da caixa torácica e abdominal. No caso dela, o coração sofreu algumas alterações anatômicas. Ele possui dois átrios esquerdos (isomerismo esquerdo), ou seja, ela não possui o átrio direito que é quem dá o comando elétrico para esse coração. Há alguns anos ela possuía apenas arritmias atriais e no momento da indicação do implante de marcapasso ela estava apresentando arritmias inferiores na parte dos ventrículos (consideradas as mais perigosas).
Foi indicado que nossa filha usasse um marcapasso com dois eletrodos – um para o átrio e outro para o ventrículo.
Cirurgia de Implante de Marcapasso em Crianças
Como ela é crianças, a colocação do marcapasso geralmente é feita com um corte perto das costelas (mais perto da barriga). Mas, devido a altura dela, os médicos acharam melhor colocar o aparelho no local que geralmente é colocado em adultos, ou seja, acima do peito. O corte da cirurgia é bem pequeno, deve ter no máximo uns 5 centímetros.
No caso da nossa filha, os médicos optaram por um aparelho que permite a realização de exames de ressonância, por conta da heterotaxia. E foi também por causa da síndrome, que os médicos não conseguiram colocar os dois eletrodos como era o indicado. A anatomia do coração dela é muito diferente. Os cirurgiões desistiram da ideia depois de tentar e perceber que se insistissem poderiam danificar o coração.
A recuperação da cirurgia é tranquila, mas exige muitos cuidados. A criança não pode movimentar o braço. E quando digo não pode levantar, nem mesmo quando está dormindo. Minha filha tem mania de dormir sobre o braço. E provavelmente foi esse movimento que fez com que o marcapasso saísse do local apenas uma semana depois do implante. Acabamos tendo que fazer a cirurgia novamente para recolocar o eletrodo no local adequado.
Recomendo que usem no primeiro mês da cirurgia uma tala/tipoia. Dessas que a gente usa quando quebra o braço. Compramos uma divertida com tema do fundo do mar. Ela pode ser usada para a criança dormir e de dia retirada, com tanto que a criança não movimente o braço bruscamente e nem levante ele demais.
Pós Cirurgia do Implante de Marcapasso em crianças
Depois da cirurgia, fizemos algumas consultas de acompanhamento para ver se tudo estava bem. Tomamos cuidados com celulares e tablets para que fiquem numa distância mínima de 10 cm. Andamos sempre com a carteirinha de portador de marcapasso, que podem ser necessárias em bancos ou aeroportos.
De modo geral a vida segue normal. Podemos assegurar que a qualidade de vida dela melhorou 100%. Muitas vezes a gente nem lembra que ela tem marcapasso. Uma peça tão pequena que garante uma grande vida para uma criança.
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