Autismo e Maternidade – O Começo!

E hoje a querida leitora Ingrid Vollatao vem nos contar a sua história emocionante de maternidade. Ela é mãe de gêmeos e um dos seus filhos possui autismo. Em um relato lindo ela vem contar para a gente como foi a descoberta do autismo. Texto lindo!

Ser mãe é tudo de bom! Ser mãe de gêmeos, embora exaustivo, é igualmente maravilhoso!

Há quase três anos vivencio esse cansaço, esse sono sem fim, essa dor nas costas, esse desânimo… A maternidade é uma luta! Mas, com o tempo, a peleja vai ficando mais fácil. Os bebês vão crescendo e a gente vai conhecendo-os um pouco mais. Olivia, por exemplo, sempre foi a tinhosa e Caio, o tranquilão. Lembro-me dela, lá deitada, ‘ordenando’ ‘me peguem no colo’ enquanto Caio estendia a mãozinha, pedindo ajuda para levantar e caminhar. Quando ouvia um helicóptero, o menino corria para a varanda e dava tchau. Batia palmas para cada colherada de comida. Adorava olhar pra gente, levantar as mãozinhas e fazer o barulho do cachorro ou do dinossauro (waaaaah)

Caio se desenvolveu até mais rápido que a irmã, mas, depois do aniversário de 1 ano, ele começou a mudar. Enquanto Olivia florescia como uma criança arteira, tagarela e questionadora, Caio parou de bater palmas, parou de correr para a varanda, parou com as onomatopeias, parou de nos olhar nos olhos. Nesse período, eu não sabia que ele também travava batalhas…

Uns comportamentos se foram e outros surgiram. Caio ficava sentado, por um longo tempo, girando coisas. Absolutamente tudo: tampa de panela, chinelo, bola, até meu pé ele tentou girar uma vez! No início, achávamos bonitinho, afinal ele era um bebezinho. Só que, na verdade, ele estava obcecado. A partir desse ponto, meu estado de alerta entrou em DEFICON 5*. Algo estava errado!

Pouco tempo depois, Caio começou a fazer pirraça. Incessantemente. Nas festinhas, Olivia corria de um lado para o outro e Caio, no chão chorando. Não demorou, percebi que era algo diferente, era MUITO exagerado. Em dois segundos o menino já ficava com o rosto todo molhado e o nariz vermelho. Aquilo não podia ser só birra. Algo estava realmente incomodando meu filho. Mas, o que eu poderia fazer para entendê-lo? O que ele queria? DEFICON 4.

No mês seguinte, Olivia desatou a falar. Mas, Caio, nada! Aí, você que é mãe, pára e pensa: ‘como assim, meu filho de 2 anos ainda não fala?!’ DEFICON 3

Ah, quer saber? Não vou esperar o DEFICON 1 pra ajudar meu filho. Então, levamos Caio a fonoaudióloga. Não foi esclarecedor, mas foi bom. Ela nos aconselhou a procurar ao neuropediatra. E, assim fizemos.

A primeira profissional, uma senhora muito experiente e competente, não tenho dúvidas, foi hor-ro-ro-sa conosco! Não mostrou nenhum tipo de empatia ao nos contar que o Caio apresentava um quadro de TEA (Transtorno do Espectro Autista). Disse que ele teria que tomar remédios, que sem isso não iria aprender a ler ou escrever, que ele poderia nunca falar, que ele viveria em terapia para sempre… AGORA, eu sei que isso é verdade, só que tudo nos foi colocado de uma forma rude e descuidada.

Como odiei a médica, lógico que não aceitei essa análise. Procurei uma segunda opinião e o diagnóstico permaneceu o mesmo. Porém o médico teve uma atitude muito diferente! Não nos escondeu nada, mas teve todo carinho conosco. Indicou-nos livros, sites, vídeos, palestras e disse que o trabalho mais difícil seria o dos pais. Pediu para que buscássemos informação e que trabalhássemos duro, pois o Caio tem TUDO para ter uma vida feliz e produtiva. Afinal, ele só tem 2 anos!

Li que, para algumas mães, o diagnóstico foi revelador, como se uma venda tivesse sido tirada dos olhos. Pra mim, foi o oposto. Parecia que tinham me cegado e jogado meu corpo no meio do mar! Não sabia pra onde ir, o que fazer, nem como me comportar com meu filho. Alguns autistas tem aversão ao toque. Já pensou não poder abraçar, beijar ou apertar seu filho? Pra sempre?!

autismo

Não vou dizer que ser mãe de autista é maravilhoso, que Deus me escolheu porque eu sou forte. Vou dizer que é maravilhoso, sim, ser mãe do Caio. Ele é um menino doce, carinhoso e inteligente. E estou longe de ser uma pessoa forte, mas travaremos batalhas, lado a lado pra ganhar!

O tempo passou e eu fui conhecendo o Caio autista e como as coisas funcionam pra ele. Hoje, raramente faz birra, balbucia algumas coisas, vive pedindo cócegas e abraços. Brinca de pegar e agarra meu rosto puxando para perto do dele pra me beijar. Momentos de paz em tempos de alerta constante!

Caio faz fonoaudióloga, Terapia Ocupacional, natação e escola. É puxado (imagina com 2!), mas o que a gente não faz por eles, nossos filhos? 😉

*escala de 1 a 5 utilizada pelo exército norte-americano para avaliar o seu nível de preparação para a guerra (5=estado de preparação normal, 1=estado de alerta máximo)

Quer saber mais da história da Ingrid? Acesse a fanpage dela https://web.facebook.com/OLeprechaunAzul/?_rdr

Site O Leprechaun Azul

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