Escuto Sempre – Ele Não Parece Autista!

Comecei a ter contato com muitas leitoras e amigas bem próximas que possuem filhos com autismo.

Para quem não sabe nada de autismo, o espectro do autismo se divide em três categorias – autismo severo, moderado e leve.

São muitos os critérios avaliados para dizer que uma criança possui ou não autismo. É preciso que essa criança passe por várias avaliações para que um diagnóstico seja fechado.

E uma das leitoras me enviou o seguinte texto sobre a batalha que vem enfrentando em todo esse processo de avaliação com o filho de quatro anos.

“Há tempos noto que meu querido Benjamim tem um comportamento diferente do das outras crianças da idade dele. Nos últimos meses decidi que era hora de procurar uma profissional especializada em autismo para tirar essa pulguinha que carrego dentro de mim desde que ele era ainda bebê. Quero saber o que realmente acontece na cabecinha do meu filho para que a vida dele e a nossa seja mais feliz.

Como disse, sempre achei que ele pudesse ser autista. Mas quando falei isso para algumas pessoas, elas sempre me disseram, “Mas ele olha para as pessoas”… “Mas ele brinca com as outras crianças”… “Mas ele não fica girando” ou “Mas ele fala”.

Esse monte de “MAS”, fez com que eu fosse acreditando que tudo era normal na vida dele.

Mas para mim, não era!

Eu via que ele preferia brincar sozinho ou apenas do jeito dele. Eu notava que ele adorava montar as peças dos blocos por cores. Eu sei que ele demorou mais do que o normal para falar. Eu vejo como ele odeia usar roupas. Detesta as etiquetas das roupas e os sapatos que o apertam. Eu vejo como para ele comer é algo tão difícil e como ele não come absolutamente nada nas festinhas de aniversário. Eu noto como as crianças fogem dele por ele não aceitar que a brincadeira seja diferente do que ele tinha esquematizado na cabecinha dele. Eu percebo como ele não gosta de dar beijos e abraços e nem mesmo falar com as pessoas que não são do círculo de confiança dele.

Sim, meu filho olha para as pessoas… mas hoje eu sei que não olha com o intuito de estabelecer uma relação social. Ele olha como se estivesse olhando uma cor, um detalhe. Sim, meu filho brinca com outras crianças, mas não consegue entender a dinâmica completa da brincadeira. Sim, meu filho não parece diferente das outras crianças, mas autismo não se vê pela aparência física.

Hoje eu sei que o espectro do autismo é um conjunto de características e comportamentos que devem ser observados por uma equipe multidisciplinar. Hoje eu entendo que é preciso procurar as pessoas certas para conseguir ajudar uma criança com autismo.

Agora eu percebo como comentários de “é leve” com desdém, podem provocar um atraso tremendo no desenvolvimento de uma criança. Não é por ser leve que não precisa de tratamento. Não é por ser leve que se não for bem orientado não vai acabar trazendo problemas maiores.

Meu maior desabafo é que mães devem seguir seu coração quando desconfiam de algo. Devem entender que nem sempre a frase de que cada criança tem seu próprio tempo é o melhor caminho.

Meu conselho para qualquer mãe que está na luta pelo diagnóstico correto do filho é “não deixe que as pessoas tratem o autismo com desrespeito”.

Quando alguém fizer pouco caso do diagnóstico do seu filho, não entre no jogo. Só você e ele sabem como a vida tem algumas particularidades que não são tão fáceis, mesmo se tratando de um “autismo leve”.

Quero compartilhar com vocês que saber do autismo me trouxe um grande alívio. Eu sei agora que não estou fazendo nada de errado. Eu sei agora que meu querido Benjamim não é uma criança difícil ou mal educada. Hoje eu entendo meu filho e ele sabe que o entendemos.

Ana Clara – Mãe de um anjo azul!

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