Samuel sempre deu muito trabalho com a questão da alimentação. A introdução alimentar de Samuel foi caótica.
Ele não aceitava nada. Só queria saber de mamar. Nada chamava a atenção dele. Nada que tivesse que mastigar ele aceitava. Fiz de tudo que a pediatra me orientou. Fiz os mesmos procedimentos que havia feito com a filha mais velha.
Tentava explorar vários tipos de alimentos. Várias cores. Texturas. Cheiros. Nada despertava o interesse do pequeno para comer.
Cheguei num estágio de desespero em que eu batia tudo no liquidificador e dava na mamadeira para ele.
Samuel foi crescendo e nada de aceitar comida de sal. Nada de aceitar bolos, pães e lanchinhos. Ah, você pode me dizer, mas garanto que porcarias ele comia… pois é, nem as porcarias como chocolates, docinhos de festas, salgadinhos de festa ele gosta.
Começou a aceitar frutas. E me apeguei a elas. Melhor comer só frutas do que passar fome. Então, por um bom tempo, a alimentação dele ficou mais em cima de frutas vitaminas com leite e frutas.
Há poucos meses descobri que Samuel tem transtorno de processamento sensorial (dificuldade que o cérebro encontra para processar informações através dos órgãos dos sentidos) e isso faz com que o comer seja algo difícil para ele. Não é que ele simplesmente não quer comer ou é chato para comer. Para ele é complicado mesmo. O cérebro dele não consegue entender determinadas texturas, cheiros ou aparência da comida.
Ele não consegue muitas vezes lidar com o ambiente que o rodeia no momento da alimentação e como isso tudo interfere no ato de se alimentar. Para ele esse momento é realmente terrível de processar.
Hoje participei de um curso ” O mundo sensorial por trás da alimentação” que aborda questões do transtorno de processamento sensorial com a terapeuta ocupacional e nutricionista do espaço Interagir e uma coisa fez muito sentido para mim depois das explicações delas.
Não devemos falar na frente dos nossos filhos que “eles não comem nada”, “são difíceis para comer”, “não comem isso ou aquilo”. Cada vez que eles escutam isso, reforçamos para eles que realmente são assim.
Podemos alertar as pessoas longe dos olhos e ouvidos das crianças, sobre como elas são. Mas devemos dar a possibilidade para essas crianças de experimentar comer em outros ambientes. Samuel não come arroz e feijão em casa. Mas no restaurante da rua ele come um prato cheio. Ele não come macarrão no restaurante, mas aqui em casa come o macarrão puro, sem nenhum tipo de molho.
O que quero dizer é que se já falamos que eles não comem de jeito nenhum, não damos a possibilidade deles experimentarem em outro contexto. E quando não falamos para eles “você não come nada”, é mais fácil de mudar esse padrão de não comer.
Crianças acreditam em tudo que falamos. E se você cria um estigma em torno delas, vai ser mais complicado de mudar isso depois. Descobri que o não comer é muito mais que “frescura de criança”… é uma questão de saúde também.
Vou postar mais textos sobre esse mundo novo que envolve a alimentação em breve. Fiquem ligados!
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