Quase perdemos nossa bebê!
Escrever este post é muito difícil para mim. Relembrar de momentos que foram extremamente intensos, doloridos e reveladores. Mas acho importante falar sobre isto, passados três anos do fato. Muitos pais podem estar passando neste momento por este desespero que senti, e gostaria de contar para eles esta história de dor, mas que teve um final feliz.
Os dias que passamos pelo hospital renderam muitas histórias. Desde o sentimento de culpa, a imperícia médica, a descoberta da minha fé, o acolhimento de pessoas amadas, presenciar o sofrimento de tantas mães de UTI, o leite materno como remédio, infecção hospitalar, medos e mais medos.
Foi um verdadeiro tsunami que aconteceu nas nossas vidas. Peço que tenham paciência com este grande relato e que sirva para alertar muitas outras mães sobre a importância de levar seus filhos ao médico e acima de tudo seguir sempre a intuição materna.
Foram dezesseis dias fortes, dolorosos. Senti pavor de não saber o que o destino nos reservava. Chorei desesperada feito criança. Meu coração estava em pedaços.
Nossa filha querida, quando tinha 11 meses teve Meningite Bacteriana. Vou relatar a sequência de acontecimentos para que outras mães, não cometam os mesmos erros que eu. Sim, eu cometi erros!
17/11/2012 (sábado) – O primeiro foi quando minha filha estava com febre alta e eu resolvi dar o antitérmico em casa e esperar baixar. Achei que seria pior levar em emergências lotadas. E se levasse, que diagnóstico a pequena iria ter? Virose? A febre não cedeu. Liguei para o pediatra e ele só tinha como atender daqui três dias. Achei que poderia esperar tudo isso sem problemas. Passamos o final de semana medicando a febre que voltava depois de umas horas que o efeito do remédio passava.
20/11/2012 (terça) – A consulta chegou. Diagnóstico de sinusite. Voltamos para casa com os antibiótico receitados, esperançosos de que logo tudo fosse passar.
Madrugada 21/11/2012 (quarta) – Raquel piora. A febre não baixa. Chega a 41. Ligamos para o pediatra, ele disse que o remédio ainda não teve tempo de fazer efeito. Tínhamos que esperar um pouco, porque a medicação estava correta.
Tarde 21/11/2012 – Bebê não quer brincar. Só quer ficar deitada. Dormindo. Quando acorda, geme bastante. Ligo para o pediatra e relato. Corremos para farmácia comprar alivium para “garganta”.
Noite dia 21/11/2012 – Bebê ardendo em febre. Damos banho morno. Chora. Não quer mamar no peito.
Madrugada dia 22/11/2012 (quinta) – Raquel tem o primeiro episódio de vômito. Febre 41. Não quer se mexer. Dorme. Ligamos para o pediatra e ele manda dar remédio para o estômago e retornar a ligação para ele no final da tarde.
Manhã dia 22/11/2012 – Desistimos se seguir nosso pediatra. Era alguém que até o momento tínhamos plena confiança. Inclusive era indicação, sempre atencioso, todos gostavam dele. Mas estávamos uma semana nesta agonia. Fomos atrás de uma segunda opinião. Conseguimos um encaixe em uma clínica. Médica manda levar ela imediatamente para a emergência de um hospital maior. E reforça dizendo: “Se fosse minha filha, eu levava agora para a emergência”.
No hospital o médico da emergência sugere ser uma virose. Neste momento eu já sabia o que minha filha tinha. Não era virose. Era algo muito grave.
Como eu sabia se nenhum médico havia me dito? O que era?
Era meningite. Perdi meu irmão mais novo por conta de meningite. Minha intuição me disse o que era.
Exigi que o médico fizesse o liquor (exame para detectar esta doença). Depois que a pequena teve mais um episódio de vômito ele atendeu meu pedido. Raquel fez uma bateria de exames entre eles de sangue e o liquor. Acreditem, ela não chorou, não se mexeu, não reagiu. Não podia ser normal. Meu coração sabia que eu estava perdendo minha bebezinha.
É muito difícil escrever sobre este momento da nossa vida. Confesso que meus olhos agora, estão repletos de lágrimas. Quando lembro que ela não sentiu colocarem uma agulha na coluna, é sinal de que ela não tinha força nenhuma naquele momento. Quase desabei nesta hora. Ver seu bebê passar por uma bateria de exames, ver ele sofrendo, saber que algo de muito ruim está acontecendo é terrível. É assustador.
Espero horas. Chega o resultado do exame de sangue e o que eu já sabia se confirma: MENINGITE. Mas segundo os médicos seria apenas um caso viral. Sem muitos problemas. Algo mais simples. Existem dois tipos de meningite. Viral, a menos pior, e Bacteriana, a pior.
Como o médico achou que era viral, meu marido foi pra casa buscar coisas para nós, com um pouco mais de tranquilidade. Pensamos “Dos males o menor”. Mas a vida muda em minutos. E volta outro médico e diz “MENINGITE BACTERIANA precisa ser transferida imediatamente para a UTI.
Como assim UTI? Eu não tinha mais chão. Eu nem tinha mais minha filha comigo. Em minutos, eles levaram ela. Saíram correndo com ela naquela maca. Eu só via tudo branco. Uma maca branca levando minha bebezinha. Eu fui meio atordoada seguindo alguém. Entraram em uma sala com minha filha e fecharam a porta e eu fiquei para o lado de fora. Minutos antes era um caso simples. Agora minha filha foi levada às pressas sem ninguém deixar eu nem dar um tchau.
Desabei. Meu marido que estava indo para casa dirigindo desabou. Lembro que alguém me consolava. Mas eu não aguentava sentir aquela dor. Aquele medo de vir a perder minha filha assim como minha mãe perdeu meu irmão. Eu lembrei do meu irmão. Também levaram ele tão rápido de nós. Não era justo que acontecesse comigo.
Volta a médica da UTI e me dá o diagnóstico: MENINGITE BACTERIANA + septicemia (infecção generalizada). As chances? Minha filha vai ficar boa? Quando ela vai melhorar? Vai ter alguma sequela?
E a resposta me deixou mais ainda na escuridão. Nenhuma esperança. Caso extremamente grave. Torcer para os remédios fazerem efeito, identificar qual bactéria. Não recebi esperanças. Desabei. Chorei. Briguei tanto com Deus. Briguei comigo. Me cobrei por não ter levado ela antes para o hospital, por ter dado ouvidos ao pediatra, por ter que trabalhar e deixar ela na escola. Me culpei por minha filha estar na situação que estava.
Foram horas de espera e nenhuma resposta. As visitas na UTI eram feitas duas vezes ao dia. Teria que esperar pelo horário das 20:30 para saber algo mais. Nesse horário, não pudemos ter contato com ela. Estava isolada. os médicos reforçaram que o quadro era muito grave e não nos deram nenhuma esperança. Foi liberado que eu dormisse com ela no isolamento. Poderia entrar após as 23:00 horas.
Todos foram embora. Fiquei esperando para passar a noite com minha filha. Não pude entrar no horário recomendado pois algum bebê estava sendo atendido de emergência. Esperei, esperei. Sai outra médica para conversar comigo e me diz “Você não vai poder dormir aqui hoje”. Meu coração desesperado. “Sua bebê sofreu uma parada respiratória e tivemos que entubar ela…você vai poder entrar para ver ela alguns minutos e depois sair”. Desabei. Minha bebê teve uma piora em questão de horas. Ver minha filha entubada foi a pior coisa que já vi. Ela toda amarrada na cama, respirando por aparelhos. Não desejo que nenhuma mãe passe por estes momentos na vida.
Peguei um táxi e voltei para casa. Não dormimos. Só chorei. Chorei como criança quando se machuca. Os pequenos quando se ferem choram com toda energia do universo. Parece que um pequeno arranhão é um daqueles machucados que nunca mais vão sarar. Eu chorava assim. Não tinha esperanças que minha filhinha fosse melhorar. Tinha medo. medo e só medo.
Raquel precisava reagir aos remédios em até 72 horas. Tomou os antibióticos mais fortes que existem. Eram os únicos que poderiam salvar ela. Ela precisava reagir. Precisava ser forte. Foram horas que pareciam meses para passar.
Depois de 48 horas de agonia… Raquel começou a reagir. Não nos deram certezas de nada. Mas dava para notar, os médicos estavam esperançosos. Um raio pequeno de sol começou a brilhar. No hospital tem uma pequena sala de orações. Fui agradecer.
E no outro dia, enfim uma notícia muito boa. Raquel começou a reagir de verdade. Tiraram o respirador. Quando entrei na visita da noite escutei um chorinho. O chorinho mais gostoso que ouvi em toda minha vida. Eu sabia que era o da minha filha. Naquela hora o coração quase sai da boca de alegria. Agradeci tanto a Deus por estar me dando uma chance. Eu aprendi a ter fé de verdade com toda essa situação.
Os médicos pediram para eu dar de mamar no seio. Seria uma forma de vermos alguns reflexos da pequena. E foi tão lindo! Ela sugou com toda sua força. E toda equipe médica fez festa nessa hora. Eu confesso que tinha muito medo que Raquel perdesse a audição, que ficasse com algum tipo de sequela. Então no momento em que estava amamentando eu fiz uma brincadeira que sempre fazia com ela. Eu costumava falar ‘BIII” e ela colocava a mãozinha no meu nariz. Eu disse o “BIII” com muito receio que ela não respondesse. Mas ela respondeu colocando a mãozinha no meu nariz. Ali chorei feito mãe feliz. E a equipe da UTI saiu radiante de alegria.
Depois disso, foram muitos outros dias de luta. Levamos mais sustos no hospital, com infecção hospitalar, mas isto conto num post futuro, senão a história aqui fica muito grande.
O que ficou para nós, como pais, foi a lição de que nada é mais importante que nossos filhos. Que a possibilidade de vir ficar sem eles é dolorosa demais. Que pensar numa vida sem as gargalhadas de um bebê é triste e escura. Algumas vezes eu paro e olho pra minha filha, hoje com 3 anos, e só consigo ver um milagre de Deus diante dos meus olhos. Penso na força que essa menina traz com ela e que Deus tem um mundo muito colorido para ela brincar. Agradeço sempre pela vida que Deus deu novamente para nossa linda Raquel.
Os relato que seguem foram escritos nas redes sociais na época em que Raquel ficou internada.
22/11/2012 – Pedimos para todos que rezem, mas rezem muito pela nossa pequena!!! Ela precisa de muita luz de cura, muita fé e força… Vamos acreditando na cura dela! Deus é maior do que tudo!
22/11/2012 – Reage Filha!!! Reage Raquel!!! Força neném da mamãe!!!
22/11/2012 – Dorme bem minha filhinha!!! Mamãe e papai estão com você…. força filha!!! Reage minha pequena… manda a bactéria bobona embora… faz nhenhenhe pra ela!!!
23/11/2012 – Reage Raquel!! A Princesinha está reagindo!!! Ainda é um estado grave..mas a médica está otimista! Disse que vão tentar tirar o respirador dela agora a tarde! Já identificaram a bactéria… Estamos otimistas e confiantes de que Jesus e o anjo da guarda estão cuidando bem da nossa filha! Continuem orando… agradecendo por ela estar reagindo!!! Obrigada a todos!
23/11/2012 – Filhinha linda da mamãe!! Estamos rezando por você; Estamos orgulhosos da sua força e por você estar reagindo. Força filhinha! Nós te amamos e sabemos que logo você vai estar brincando com todos nós!
23/11/2012 – Confio imensamente em Nossa Senhora… Sei que ela está curando nossa pequena!
24/11/2012 – manhã – Hoje vai ser um dia de boas notícias!!! Continua reagindo Filha!!!
24/11/2012 – noite – Continuamos rezando e agradecendo imensamente por este milagre! Ela vai sair dessa! Força filha!
25/11/15 – O nosso bom Deus tem nos dado muita força e bençãos… Raquelzinha esta lutando feito uma guerreira… ontem pegamos ela no colo!!! Dei de mamar no seio e ela chorou quando sai de perto dela… Cada dia Deus nos concede um milagre nessa história toda… Continuamos agradecendo a bondade divina e orando pra que ela saia de lá bem linda da mamãe, o mais rápido possível!!!
26/11/2012 – Deus realizou um grande milagre em nossas vidas. O mais emocionante foi ver tanta gente confiando suas preces a ele. Nunca tinha sentido de verdade esse sentimento de fé. Rezei, prometi um monte de coisa… mas foram dois momentos de orações que realmente me entreguei por inteira a Deus. Foram nestes momentos que minhas preces foram ouvidas. Obrigada de coração a todos… obrigada aos anjos que me levaram a ter contato tão direto com Deus… Obrigada por estar podendo ver minha princesa dar gargalhadinhas de alegria!
26/11/2012 – Valeu filha!!! Você é nossa grande guerreira! Te amamos…
13 Comentários para "Os dias em que quase perdi minha bebê..."
thabata saraiva 31/10/2015 (22:26)
Que mãe forte você é! Chorei lendo seu relato. Sou mãe e não consigo imaginar a dor q vc sentiu. Mas q Deus continuar te dando essa fé e abençoando sua filha.
Kely Varela 31/10/2015 (23:55)
Oi Thabata,
Obrigada pelas suas palavras.
Que Deus ilumine a todas nós e aos nossos queridos filhos!
Abraços
Kely
Paula 01/02/2016 (22:18)
Kelly também recebi um milagre de Deus! Passei pela mesma situação que a sua. Minha pequena não teve meningite, mas uma septicemia tão grave que a única explicação de ela estar viva e sem sequelas foi a presença de Deus. Maria Júlia ficou entubada por 15 dias, fez várias hemodiálises e a minha maior alegria foi quando ela reconheceu os dvds que ela adorava! Foram os dias mais terríveis possíveis, arrumei força somente em Deus e achei que não ia aguentar.Impossível não ter me tornado uma pessoa muito melhor depois desse imenso milagre! Também quero contar esse depoimento para várias mães nunca perderem a esperança e confiarem muito NELE. Foi maravilhoso ter minha pequena de volta
Annie 02/02/2016 (11:50)
Que relato lindo e difícil! Me emocionei e vibrei em cada conquista… obrigada por compartilhar para ficarmos mais atentas aos nossos pequenos! Graças a Deus por sua misericórdia e por salvar sua filhinha! Que Ele lhes dê uma vida muito linda, cheia de amor e gratidão!
keli 23/04/2016 (15:42)
Chorei, simplesmente chorei muito em cada paragrafo.,,, chorei de tristeza e chorei de alegria por esse milagre…. muito obrigada por compartilhar… isso serve pra aumentar nossa fé,… as vezes fraquejamos diante de alguns problemas aí lemos um milagre desse… e pensamos COMO DEUS É BOM, MISERICORDIOSO… ELE ESTA OUVINDO NOSSAS ORAÇOES SIM…. parabens pela filha linda, pela força… que deus abençoe voces…. e que os anjos guardem sua princesinha de todo mal….
Kely Varela 12/05/2016 (22:04)
Oi Keli,
Muito obrigada pelas suas palavras! Grata a Deus por toda a minha vida pelo grande milagre que ele me deu.
Beijos querida!
Kely
Flávia 22/05/2016 (20:50)
Obrigada por compartilhar isso conosco. Pude ter uma previa da sua dor apenas com este relato. Que isso sirva para nós inspirarmos e sempre confiarmos em nosso instinto materno. Os médicos nem sempre tem razão, e o que ando percebendo desde que me tornei mãe é q muitos tratam os pacientes de forma generalizada. “ah mais isso é mto raro” e se nossos pequenos estiverem dentro desse pequeno grupo raro no que quer que seja?
Nós que geramos nossos filhos que sabemos de verdade qdo algo está errado, sua experiência é prova disso. Obrigada mais uma vez e td de bom pra nós.
Monica Teixeira Meneses 23/05/2016 (09:10)
Como não chorar?! que agonia… Deus abençoe vocês, com muita saúde e força! Vou ficar atenta a qualquer sinal estranho e correr ao hospital sempre… que raiva desse médico. Ainda bem que ouviu sua intuição. Obrigado por seu relato. Beijo no coração 🙂
Kely Varela 24/05/2016 (13:56)
Oi Monica,
Na epóca fiquei com muita raiva mesmo…tive vontade de processar… depois vi que o mais importante era a Raquel estar bem…
Mas devemos ficar muito atentas sempre.. e sim, devemos passar por chatas e exageradas..é a vida dos nossos filhos, né?
Beijo para você também querida!
Paloma Maiely Buhrer 27/05/2016 (16:40)
Nao tem cm nao chorar…Muito lindo um grande milagre…parabéns pela força e por ser uma maezona…
Tatiana 13/06/2016 (22:42)
Nossa, passei a mesma situação com a minha bebê, sendo q foi mais brando pq descobriram logo no início..sofri tanto quanto vc, uma dor interminável.Fiz um propósito com Deus e ele me ouviu. Minha filha hj está com 1 ano e 6 meses sem nenhuma sequelas.Deus é fiel.
Alessandra 19/06/2016 (17:07)
Que bom que tudo deu certo, vc desconfia como ela pegou a doença só por precaução de mãe…Obrigada
Rafaianne 21/10/2017 (21:06)
Olá, a sua filha tinha sido vacinada (meningo c)? Fico com medo de msmo após a vacina meu filho não ficar protegido