É com muita alegria que damos início ao quadro “Meu parto foi assim…” Espaço reservado para as mães compartilharem suas experiências. Não defendo nenhum tipo de parto. Entendo que é uma escolha feita pela mulher e um médico consciente. Respeitar a mulher neste momento tão importante é fundamental.
MEU DEPOIMENTO SOBRE O NASCIMENTO DO JOÃO RAFAEL, MEU FILHO ( UM ATO POLÍTICO)
Em outubro de 2013, realizando um projeto de memórias em Ibirama, entrevistei uma senhora no meio rural, a qual demonstrava uma imensa felicidade pela história de família que ela construiu. Falou-me dos seus partos, o marido chamava a parteira para cuidar da esposa com carinho. A alegria dessa senhora em narrar sua história de família era tamanha que pensei: porque eu não posso dar conta de ser mãe e celebrar a vida? Nós mulheres ocidentais do meio urbano, intelectualizadas, profissionais herdeiras da queima dos sutiãs, valentes guerreiras do mercado de trabalho,somos submetidas a um mecanismo violento da industrialização da vida e do individualismo do ser.
Já diria Freud, somos frutos do mal estar da civilização, reprimimos nossos instintos mais intensos. Nos tornamos elegantes, educadas, magras, civilizadas e de preferência com maquiagem e salto alto. Ter o João, ser mãe do João, trazer o João ao mundo foi uma luta para romper com isso, para buscar em nós a nossa natureza. Por isso da escolha de um parto humanizado. Foi mais que uma escolha individual, foi conforme um anjo chamado Veruska, um ato político: decidir sobre nosso corpo, nossa vida, nossos sentimentos. Pois, nós mulheres do tal mundo civilizado, somos submetidas a vários procedimentos hospitalares desrespeitosos e violentos. Percebi isso não somente por meio de leituras, mas principalmente por vivenciar algumas consultas com médicos que entendem nascer como um procedimento técnico. Se eu tivesse parado por aí, João teria nascido de cesária, afinal em acordo com a opinião desses profissionais, meu corpo de 34 anos não teria condições de um parto natural, afinal eu sou “velha demais para isso”. Como me sinto uma garota de 20 anos e tenho certa leitura de mundo, não considerei os argumentos sobre o estado “senil” do meu corpo. Um corpinho saudável e feliz!
João nasceu de parto natural e domiciliar, sem laceração nenhuma em meu corpo, nenhum ponto sequer, nenhuma intervenção química artificial. Apenas meu corpo, minha cabeça, meus hormônios do amor e muita saúde (também umas colheres de leite condensado para dar energia, água de coco e chocolate). Vamos celebrar a natureza e a vida com saúde! Afinal, partos de pessoas com toda a saúde devem ser incentivados e não negados. Mais do que isso: estar grávida não significa um estado patológico (como a sociedade em geral trata) fazer um parto estando saudável não é um ato consagrado ao poder da medicina, é sim um acontecimento da natureza humana.
Faz alguns mil anos que os seres humanos nascem, não é mesmo? Cesária é uma cirurgia que salva vidas sim, mas a qual não deveria ser uma opção quando estamos saudáveis. No entanto o conjunto de procedimentos desrespeitosos aos quais muitas mulheres são submetidas quando escolhem um parto normal “tradicional hospitalar” as faz optar por uma cesária. Essa é uma questão a ser profundamente discutida. Claro, que esse acontecimento: o nascimento do João, ocorreu assim de forma tão humana e amorosa por conta de condições de preparo e estudo. Preparo físico e mental.
Nesse caminho contei com pessoas lindas, profissionais iluminadas que amam profundamente o que fazem, as quais deixam transbordar no olhar que fizeram uma opção de amor pelo mundo e pela vida. Então agradeço profundamente a minha médica Veruscka Gromann, a doula Wandy Plebani, a doula Janine Sheffer Lummertz. Cada uma de vocês foi fundamental. Sem palavras minhas, apenas as do Daniel Lucena em sua canção “certos amigos” , música que há mais de dois anos atrás eu falei para o universo que quando recebesse meu filho eu cantaria para ele, afinal quero ser amiga dele: “ amigo é um cobertor bordado de estrelas”.
Nesse ritual todo de força familiar, ressalto a presença do meu marido Rafael,eu tinha certeza de sua força e tranquilidade. Sem seu incondicional apoio essa escolha por um nascer humano e respeitoso não seria possível. Não há dimensão que complete o tanto que sou grata a vida por você estar aqui. E claro, gratidão pela família e amigos, todos os que nos amam e acompanharam com seus corações esse processo. Em especial minha mãe, aqui a nos cuidar com todo amor. Escolher trazer o João Rafael para o mundo de forma natural é meu ato de amor por ele e pela vida. Além dos dados científicos que comprovam os benefícios de um parto natural, existe em minha atitude o profundo sonho por um mundo mais digno. Quis fazer do nascimento do João uma escolha pela dignidade, para que ele também entenda que desde seu nascimento ele tem um compromisso de amor, dignidade e generosidade com a existência.
Meu parto foi assim. Com Rafael Gonçalves de Souza, Janine Scheffer Lummertz, Veruscka Gromann, Wandy Plebani.
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