No carnaval fomos em um desses bailes para crianças promovidos por um Shopping aqui de Curitiba. O evento era gratuito e contava com algumas atrações para divertir a criançada.
A festa era comandada por um mestre de cerimônias que dividia o palco com uma banda. Na terça, 9 de fevereiro, dia em que fomos, a música era conduzida pela “Unidos do Estação”. A base de muitas marchinhas de carnaval as crianças puderam dançar e jogar para cima as serpentinas e confetes que ganharam ao entrar no local da festa.
As crianças que chegaram bem cedo tiveram a sorte de serem maquiadas. A ideia era pintar o rosto das crianças interessadas. O grande problema nesta atividade foi o pouco número de profissionais para atender um elevado número de pequenos. Ficamos na fila mais de uma hora e a mesma não evoluiu. Acabamos desistindo para poder levar as crianças ao banheiro. Uma alternativa seria distribuir senhas, assim as crianças ficariam livres para brincar e seriam chamadas apenas no momento em que chegasse a sua vez. Afinal, manter uma criança parada em uma fila durante um ato festivo já é pedir um pouco demais para os pequenos.
No intervalo da banda, o mestre de cerimônias faz o anúncio do dito Concursos de Fantasias. Todas as crianças são convocadas a irem perto do palco para participar da atividade. Todas tiram fotos. Todas desfilam, mesmo que com a presença dos pais, mas ao final duas apenas ganham o concurso.
Sei que o mundo é competitivo. Que apenas um pode ganhar. Que a criança precisa aprender que nem sempre vai vencer. Que crianças precisam saber que o mundo é cruel. Que é necessário ensinar nossos filhos a lidar com sentimentos de frustração e tristeza.
Sim, eu você e todo mundo já sofreu grandes decepções enquanto era criança. Mas será que precisa ser realmente assim?
Será que crianças precisam ser expostas a tais competições tão cedo? Uma criança de 3 ou 4 anos precisa ser forçada a lidar com sentimentos de frustração tão sem preparo? O mundo realmente precisa ser tão competitivo?
O dito concurso poderia ser conduzido de maneira diferente. As crianças poderiam ser inscritas antes para participar e assim os pais saberiam exatamente qual o andamento da atividade. Quando digo que as crianças foram forçadas, me refiro ao fato de as regras da competição não terem ficado bem claras antes do jogo começar. Simplesmente todas foram convocadas e eu pergunto: “qual criança vai deixar de ir brincar junto com todos os demais amiguinhos”? Encaro como um jogo, pois uma brincadeira seria divertida para todos.
Eu confesso que na minha santa ingenuidade, achei que o prêmio seria dado para todas as crianças. Algo como a fantasia de todos era linda e todos merecem ganhar. Mas a premiação foi realizada de qualquer jeito por uma pessoa que parecia nem saber que iria escolher alguma coisa.
Ouvi minha pequena e mais algumas crianças falarem sentidas “Mãe, eu queria ganhar” “A minha fantasia não é bonita mãe”, “Minha fantasia não tem brilho, por isso que eu não ganhei”.
Explicar para uma criança que o mundo dos adultos não é justo e que os adultos não são sensatos nem sempre é muito fácil. Sim, neste caso, nós adultos é que metemos as crianças nestas infelizes situações. Crianças não precisam competir por tudo. A roupa de todos era especial. Uns estavam felizes por vestirem a roupa do personagem preferido, outros por terem vestidos repletos de brilhos, outras por vestirem algo assustador.
E aí, eu dou o prêmio de melhor fantasia baseado em que mesmo?
Nestes últimos dias Raquel tem me pedido para fazer um concurso de fantasias para que ela possa usar uma com bastante brilho e que ao final do concurso ela possa ganhar.
Aí, vem todo trabalhão de conversar e mostrar que as pessoas se vestem de maneira diferente, que as pessoas se sentem bem de forma diferente, que ganhar não significa ser o melhor ou ter o melhor. Geralmente concursos desta natureza são calcados em opiniões e gostos pessoais. Mas os sentimentos das centenas de crianças que estavam lá no baile de Carnaval foram norteados pelas decisões destas pessoas que não pensaram na possibilidade de fazer uma premiação mais justa.
Competir faz parte da vida, não tem como fugir disso. Seja em um jogo, esporte, vaga para emprego, vestibular… Mas me pergunto, se precisamos expôr tão precocemente nossos filhos a regra de que apenas um vai ganhar na vida. Apenas o melhor, mais bonito, mais inteligente, mais isso ou aquilo vai levar o troféu.
Sim eu daria um prêmio fictício ou mais serpentina e confetes para todas as crianças que estavam participando. Eu não preciso ser sempre melhor que meu coleguinha. A fantasia simples feita com toda criatividade do mundo pela mãe não pode ser tida como inferior perante a comprada na disney pela avó. São realidades e contextos diferentes que estavam todos mesclados em uma festa para crianças de 3 a 12 anos.
É preciso ter tato quando fazemos algo destinado aos pequenos. Eles não são adultos. Não tem maturidade suficiente para entender exatamente como a vida funciona.
Sim, eles vão aprender com a vida. Mas continuo afirmando que a vida pode sim ser como um algodão doce: leve e doce!
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