Saúde do Bebê

Colo e Cuidados de Mãe Têm Efeito Superior ao de Medicamento

Texto da leitora sobre um assunto que já discutimos aqui: O Atestado Médico é Para Cuidar dos nossos filhos e não para nós! Precisamos que nossos médicos tomem consciência da importância dos cuidados da mãe para as crianças em momentos como este!

Boa tarde, Dr. G.!

Estou entrando em contato para comunicá-lo que, a partir de agora, o Theo terá um novo pediatra.

Segue um desabafo de mãe com as razões que me levaram a tomar essa decisão.

Lamentavelmente, embora tenha gostado do atendimento prestado desde a primeira semana de vida do Theo, esta semana, num momento delicado para ele e para mim, você, como seu pediatra, deixou a desejar…

Na terça, ao telefonar para verificar se poderia atendê-lo, não vi problema algum em somente poder fazê-lo na sexta, afinal, entendo e respeito seu trabalho na rede pública. Não acho que os pacientes particulares ou dos planos de saúde são melhores e que, por isso, você deva cuidar exclusiva ou prioritariamente deles.

Diante de sua motivada indisponibilidade, levei-o então ao pronto atendimento, onde o médico, ao observar sua garganta, prontamente o diagnosticou com herpangina e afirmou que o quadro de febre e dor deveriam durar cerca de três dias. Perguntei se o Theo deveria ser tratado em casa e ele sugeriu que sim, afirmando na sequência, porém, que ali somente me daria um atestado de comparecimento.

Já não havia gostado muito do atendimento do profissional e isso só reforçou minha má impressão…

Mas pensei que conversando com você, tudo se resolveria. Pensei que, por ser o médico do Theo ao longo desses quase dez meses; por saber que sempre fui cuidadosa com sua saúde nos limites do razoável, sem nenhuma paranoia, sempre adorando seu ponto de vista sobre “vitamina S”; você, diante do diagnóstico e do receituário, conhecendo bem os sintomas dessa virose, atestaria sobre a necessidade de o Theo ser cuidado em casa.

Como você mesmo disse, isso seria bom para evitar o contato dele com outras viroses. Ora, não sou médica, mas sei que isso faz todo sentido. Se ele está doente, está mais vulnerável a outras doenças.

Além disso, vale também o que ressaltei: afastá-lo da escola por um ou dois dias poderia minimizar também as chances de contágio de outras crianças.

Como pediatra, você certamente sabe que é regra das escolinhas infantis não receber ou permanecer com crianças doentes, justamente para evitar uma “epidemia”. Parece-me acertada essa decisão, ainda que possa complicar minha vida eventualmente.

Pois bem, diante de tudo isso, recebi com espanto, decepção e indignação sua recusa (ainda que indireta) em atestar a necessidade de o Theo ser tratado em casa.

De imediato, pensei: se a herpangina causa grande dor e desconforto na garganta, dificultando ao extremo ou impossibilitando a alimentação, se dá febre, se dá dor no corpo, pode dar diarreia e vômitos, e se não há tratamento específico, apenas medicamentos para aliviar os sintomas, parece-me evidente que, fosse um adulto o paciente, nenhum médico veria problemas em atestar sua condição clínica e afastá-lo do trabalho.

No entanto, como o paciente é um bebê, não há mal algum em mandá-lo para a escolinha com dor, chorando, sem se alimentar, com febre…

Não há mal algum na visão preconceituosa, insensível e desrespeitosa de alguns médicos, pois para pais, escolinhas e pais de outras crianças, há muito mal, sim!

É preciso dar um basta nessa “desconfiança” em torno das reais intenções das mães (ou pais) quando pedem um atestado para cuidar de seus filhos em casa. Aqui é importante ressaltar que o atestado solicitado era para ele, o paciente, não para mim! Portanto, não pedi nada absurdo ou ilegal, queria apenas que se atestasse a verdade: que ele encontrava-se doente e necessitava de cuidados. Não quero um atestado para “matar” o trabalho e ir para o shopping fazer compras. Quero um atestado sobre a condição clínica do meu filho para poder exercer um dos muitos papéis sociais da mulher: o de mãe.

Quero um atestado para que, naquele(s) dia(s) em que meu filho mais necessita de mim, eu não precise submeter-me a uma jornada dupla, ou tripla, e possa me dedicar exclusivamente a ele. Quero um atestado porque sei que, quando meu filho está doente, colo e cuidados de mãe têm efeito muitas vezes superior ao do medicamento.

Que tipo de pessoa pensa que as mães querem tirar algum proveito da doença de seus filhos? Eu preferiria um milhão de vezes, acordar cedo, deixá-lo na escolinha feliz e ir trabalhar tranquila, buscando-o ao fim da minha jornada de trabalho e sendo recebida por um bebê saudável, com um abraço gostoso – cheio de saudade – e um sorriso feliz de quem amou a escolinha, mas amou ainda mais me ver. Acha mesmo que, para não precisar trabalhar, eu preferiria ter nos braços um bebê abatido, sem disposição para brincar, sem se alimentar e – pior – chorando de dor? É incrível como um ser humano pode se desumanizar por causa de preconceitos, de ideias descabidas absorvidas sem qualquer filtro…

É preciso respeitar o bebê/a criança como cidadão de direitos que é. A pouca idade ou a baixa estatura não o torna (ou não deveria torná-lo), aos olhos dos médicos, “cidadão de segunda classe”. Fica aqui a sugestão de critério para dar o atestado: se fosse um adulto com esses sintomas, eu o afastaria do trabalho? Se a resposta for “sim”, deve-se atestar que a criança precisa de cuidados em casa. Simples, né? Basta usar o bom senso no lugar dos pré-julgamentos!

O Atestado É Para Cuidar do Meu Filho – Não É Para MIm!

Ah, mas existe toda uma pressão do empresariado sobre os planos de saúde e destes sobre os médicos para que não se dê atestado “por qualquer coisinha”, “por bobagem”… E nós, mães, é que somos “suspeitas” de agir com intenções pouco nobres??? É muita hipocrisia!

Se a mãe conseguirá ou não o afastamento do trabalho é uma outra questão, já que as leis trabalhistas não dispõem especificamente sobre esse tipo de licença (mas os tribunais têm julgado a favor dos pais nestes casos). No meu caso especificamente, como servidora pública, não me submeto às regras da CLT, mas sim a regras próprias, entre elas uma que me dá o direito de me afastar do trabalho para cuidar de pessoa da família (não é só filho, pode ser marido, pais…), desde que eu apresente o atestado médico. Ou seja, a recusa em atestar o estado de saúde do Theo e a necessidade de tratá-lo em casa impediria que eu tivesse acesso a um direito que tenho! Enfim, precisei recorrer a outro profissional, mais sensível às necessidades do Theo, para obter o atestado para ele e, com isso, poder me afastar do trabalho por dois dias.

Lamento que nossa relação “médico-paciente-mãe de paciente” se encerre dessa forma, pois sempre me identifiquei com sua abordagem “leve” sobre os cuidados com as crianças, mas, como mãe, senti-me desrespeitada e pareceu-me que a saúde do Theo foi colocada em segundo plano, já que você mesmo disse que seria bom não ir à escolinha para não ter contato com outras possíveis viroses.

Talvez esse longo texto o faça refletir sobre esses aspectos e reavaliar sua postura quando outros pacientes e outras mães passarem pelo que Theo e eu passamos esta semana…

Obrigada pelo atendimento prestado até então!

Atenciosamente,

Marcele, mãe do Theo

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Kely Varela

Kely Varela, 33 anos, atriz, mora em Curitiba e há quatro anos descobriu a benção da maternidade. Hoje é mãe de um casalzinho e deseja compartilhar suas experiências com as demais mamães.

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