Essa semana rolou na internet um bilhete de um menino de 5 anos. No pedacinho de papel o garoto inventava que não haveria aula no dia seguinte.
O bilhete causou uma série de comentários repletos de opiniões achando a atitude da criança um ato inocente, outros achando muita graça e uma grande parcela de pessoas julgando o menino de apenas 5 anos como um futuro mentiroso.
Meu olhar sobre o bilhete é outro: me senti triste com o bilhete! Vou explicar…
Fiquei pensando que a realidade de uma criança de 5 anos não é a das mais felizes. Uma criança que precisa inventar que não vai ter aula para poder ficar em casa.
Provavelmente essa criança simplesmente sinta falta de ficar em casa. Sinta falta de ter um tempinho sem fazer nada. Queira ficar mais tempo com seus pais. Uma criança que aos cinco anos de idade é obrigada a ficar o dia todo dentro de uma escola e longe de todo o conforto e segurança da sua casa e da sua família.
Ela usou da sua inocência e escreveu um bilhetinho que para mim soou como um pedido de socorro. “Ei mãe, ei pai, quero só ficar mais tempo com vocês”! “Estou cansado de levantar cedo e ficar o dia todo fazendo coisas que talvez eu não esteja afim.”
Eu fui apenas com 6 anos para a escola e era só para ficar meio período. Já meus filhos precisaram ir com menos de 1 ano de idade e para ficar em média 10 horas aos cuidados de outras pessoas. Eu notei que a vida deles estava sendo difícil. Eles ficavam doentes com frequência. Não queriam acordar as 6:30 da manhã para sair no meio do frio para ficar o dia todo longe de casa. Choravam um monte para entrar na escola. Ao final do dia, nossa rotina era chegar em casa entre 18 e 19 horas e correr para comer, tomar banho, conversar um pouquinho e dormir.
E me respondam: é realmente uma rotina feliz para uma criança tão nova que quer apenas brincar e ficar perto de quem ela ama?
Quando notei que não estava sendo algo legal e tive a possibilidade de diminuir minha carga horária (e salário), não pensei duas vezes em tirar eles do período integral e ficar mais tempo com eles em casa. O resultado: crianças muito mais felizes e saudáveis. Mesmo assim eles ainda reclamam algumas vezes e pedem para ficar só com a mamãe.
Então, voltando ao bilhetinho inocente de uma criança de 5 anos. Ele não é um delinquente e nem um mentiroso em potencial.
Crianças mentem ainda sem saber as consequências da mentira. É nosso papel como pais ensinar que não devem fazer isso e mostrar que não é através da mentira que vão conseguir atingir seus objetivos.
Mas nós adultos precisamos encarar um bilhetinho de um menino de cinco anos com maturidade para ensinar o que é certo para ele e não com o martelo de um juiz dizendo “você é culpado por mentir e seu futuro será dos piores…”.
A mãe e a professora do menino relataram que o garoto é um exemplo de comportamento e que adora brincar. Então, volto a frisar: antes de julgar uma criança que você nunca viu na vida, pense como uma criança.
Precisamos descer do pedestal de adultos que parecem já ter nascido grandes e que amam apontar o dedo para qualquer atitude de uma criança. Crianças fazem as coisas baseadas na sua inocência, inteligência e vivência de mundo. Elas não tem toda a nossa padronização social e por esse motivo não devem ser criticadas com tanta “maturidade”.
Olhe os atos de uma criança com amor. Deixe seu lado criança entender a criança que tenta te dizer algo!
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